A HISTÓRIA DE UMA CONTADORA DE HISTÓRIAS

Moravam em uma casa confortável ela, o marido e as dez filhas. Ela sempre tinha uma na barriga e outra no peito sugando o seu leite.
Do marido ela não sabia nada: o que ele fazia, onde trabalhava, nada, absolutamente nada.
No dia do aniversário dele preparou um bolo, como fazia sempre, e ficou esperando ele chegar. Mas ele não chegava…
Bateram palmas no portão; ela foi ver quem era e viu dois homens que foram logo dizendo – seu marido morreu e a senhora precisa fazer o reconhecimento do corpo e o enterro.
Muito assustada perguntou – Corpo ? que corpo?
– Minha senhora ele está morto, no IML.
– Eu não sei como é corpo dele, só sei como é a cara.
– Como? A senhora não teve as filhas com ele – como não conhece ocorpo dele?
– Tive, mas ele apagava luz….
Não teve outro jeito, teve que fazer o reconhecimento e o enterro.
Quando tudo acabou foi para casa, e no caminho começou a se sentir leve, a vida vibrando em seu ser. Chegou em casa, tirou o vestido preto, tomou banho e vestiu o vestido mais florido que tinha.
Depois de algum tempo bateram palmas no portão, foi ver quem era, eram os mesmos homens que deram a noticia da morte do marido.
Foram logo dizendo – O seu marido faliu e vocês perderam tudo, até a casa, portanto a senhora tem que ir embora com as suas filhas.
-Faliu como se ele morreu?
-Faliu minha senhora, faliu. Vamos logo com isso. Todas para fora já que o juiz está chegando. Tiveram que sair as pressas, não puderam tirar nada, ficaram todas na frente da casa ,olhando morrendo de medo, as luzes todas acesas.
Depois de muito tempo ela pegou no colo a filha menor e foi andando sem saber para onde ir e cada uma das filhas fez a mesma coisa. Cada uma foi para um lado e nunca mais se encontraram ficaram perdidas no mundo.
Um dia encontrei uma contadora de histórias que sempre começava assim:
“Como contadora de histórias, encontrei em algumas histórias, personagens com destino igual ao meu. Crianças que são mandadas embora para cumprir tarefas, vencer a maldade dos adultos e esperar que alguém venha resgatá-las do sofrimento. Mergulhei neste mundo do faz de conta para entender a minha realidade e aprendi que quando se é a parte mais fraca, não confronta, desvia”
Acho que era uma das meninas da minha história.

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